Um estudo publicado na Revista Brasileira de Finanças analisou empresas listadas de 25 mercados emergentes entre 2002 e 2021 e encontrou um resultado que ajuda a entender várias características do mercado brasileiro: o Brasil apresenta a maior proporção de empresas estruturalmente frágeis entre todos os países analisados.
Os autores utilizam o termo “empresas zumbis” para descrever companhias que, de forma persistente, não conseguem gerar resultado operacional suficiente para pagar os juros de suas dívidas e apresentam alto risco de insolvência. Não se trata de empresas passando por dificuldades pontuais, mas de negócios que permanecem frágeis ao longo do tempo.
O número é relevante. Cerca de 16,75% das empresas brasileiras analisadas se enquadram nessa definição, mais que o dobro da média observada nos demais mercados emergentes, que gira em torno de 7% a 8%.
Em termos práticos, em um mercado como a B3, que conta com aproximadamente 350 empresas listadas, isso sugere que algo entre 50 e 60 empresas, em média ao longo do tempo, convivem no ambiente de investimento sem criar valor econômico de forma consistente. Não é um detalhe estatístico. É uma característica estrutural do mercado.
O que isso significa na prática
Quando empresas que não conseguem criar valor de forma recorrente permanecem ativas por muitos anos, ocorre um efeito simples de entender: capital, crédito e atenção ficam presos em negócios pouco produtivos. Esses recursos deixam de financiar empresas mais eficientes, inovadoras ou com maior capacidade de crescimento.
Em mercados mais dinâmicos, empresas que deixam de funcionar tendem a sair de cena mais rapidamente, seja por falência, venda ou consolidação. Esse processo não é destruição gratuita. Ele permite que capital e pessoas sejam realocados para usos mais produtivos.
O estudo mostra que, no Brasil, essa saída é lenta. O resultado é um mercado menos renovado, mais concentrado e com menor qualidade média do ponto de vista econômico.
É importante deixar claro: o problema não é empresa durar muito tempo. Empresas boas podem crescer e gerar valor por décadas. O problema é quando empresas que deixaram de funcionar continuam ocupando espaço por anos, sem criar valor relevante.
A B3 no contexto global
A B3 é um mercado relativamente pequeno quando comparado aos grandes centros globais. Além de contar com cerca de 350 empresas listadas, ela é concentrada em poucos setores e altamente dependente do ciclo econômico doméstico.
Isso não significa ausência de boas empresas. Elas existem e podem representar excelentes oportunidades para investidores atentos. O ponto central é que tratar a bolsa brasileira como o núcleo de uma estratégia patrimonial de longo prazo implica aceitar concentração elevada e risco institucional.
Por isso, a B3 tende a funcionar melhor como complemento dentro de uma estratégia mais ampla, e não como o único pilar.
Longo prazo exige premissas diferentes
No curto e médio prazo, decisões de investimento costumam girar em torno de rendimento, custo e volatilidade. No longo prazo, entram em cena outros fatores: preservação e blindagem do patrimônio, sucessão, exposição a diferentes moedas e economias, e redução de riscos concentrados.
Nesse horizonte mais longo, depender excessivamente de um único mercado, pequeno e com fragilidades estruturais, deixa de ser prudente. A estratégia precisa ser pensada de forma mais ampla e alinhada a objetivos de vida, não apenas a produtos financeiros.
Conclusão
O estudo sobre empresas zumbis não é uma recomendação de investimento, mas um retrato da alocação de capital no Brasil. Ele mostra um mercado que tolera por tempo demais empresas que não criam valor, o que afeta produtividade, crescimento e a qualidade média das oportunidades disponíveis.
Para quem pensa no longo prazo, a mensagem é clara: investir exige planejamento, visão global e disciplina. A bolsa brasileira pode fazer parte dessa estratégia, oferecendo oportunidades específicas, mas não faz sentido como centro da sua estratégia de investimento.
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