Moeda forte vs. moeda fraca, inflação EUA vs. Brasil e a janela para dolarizar
A tensão política elevou ruídos, mas o câmbio continua respondendo a três motores clássicos: inflação relativa, diferencial de juros e percepção de risco/fiscal-externo. É por aí que dá para discutir o próximo passo do dólar, com menos ruído e mais fundamento.
1) Inflação: quem corrói menos o poder de compra?
EUA: a inflação segue compatível com a meta de longo prazo do Fed. Isso ancora expectativas e tende a preservar o poder de compra do dólar ao longo do tempo. (Bureau of Labor Statistics, Reuters)
Brasil: o IPCA desacelerou recentemente, mas segue acima da meta, segundo o próprio Banco Central, que, por isso, fala em manter política restritiva por mais tempo. Inflação mais alta por mais tempo é característica de moeda mais fraca no horizonte longo. (Reuters)
Leitura prática: o dólar segue com vantagem estrutural via menor inflação tendencial.
2) Juros: o “carry” segura o real… até mudar o vento
Brasil: Selic em ~15% depois de uma sequência de altas; o BC sinaliza pausa prolongada. Essa taxa de juros puxa fluxo de carry trade (o rendimento obtido pela diferença entre taxas de juros de duas moedas), apoia o real e pode mantê-lo mais valorizado do que os fundamentos de longo prazo sugerem, enquanto durar… (Reuters)
EUA: o mercado oscilou entre cortes e “mais cautela” após PPI (índice de preços ao produtor) mais quente (acima das expectativas do mercado) e dados mistos (mercado recebe mensagens contraditórias). Quanto menos o Fed cortar, mais suporte para o dólar no curto prazo e o mercado passou a acreditar que o Fed pode precisar ser mais cauteloso. (Reuters)
Leitura prática: o diferencial de juros hoje favorece o real, mas é cíclico. Se o Brasil cortar (ou o Fed não cortar tanto), a âncora do carry enfraquece e o dólar volta a ganhar tração.
3) Risco fiscal e setor externo: o calcanhar-de-Aquiles
A dúvida sobre fiscal e conta-corrente volta e meia pressiona prêmio de risco no Brasil, principalmente quando há choque político/comercial (tarifas, retaliações). Isso limita quanto o real pode andar sem correção. (Reuters)
Já o dólar, além de “moeda de reserva”, é porto seguro em estresse global. Em 2025, ele teve fases de fraqueza frente G-10/EM, mas reagiu quando dados ou geopolítica mudaram a precificação de cortes do Fed. (Reuters)
Leitura prática: No Brasil, risco fiscal e vulnerabilidade externa são gatilhos de desvalorização rápida do real. Globalmente, o dólar tende a ganhar força em crises ou reprecificação de juros nos EUA. Para portfólio: manter parte dolarizada é menos sobre “ganhar com o câmbio” e mais sobre proteger contra eventos que derrubam o real de forma abrupta.
Então… é hora de dolarizar?
Entenda se é o “timing” para pensar sobre um “rebalanceamento inteligente”:
Inflação favorece o dólar no longo prazo (moeda forte preserva poder de compra). Bureau of Labor Statistics
A taxa de juros alta no Brasil deu fôlego ao real, abrindo uma janela tática para converter parte do portfólio a dólar com preço melhor. Quando o ciclo mudar, o suporte enfraquece. Reuters
Risco/fiscal e choques comerciais podem reverter rapidamente o humor. Diversificar em moeda forte reduz vulnerabilidade local. Reuters